quarta-feira, 1 de junho de 2016

O Massacre dos Judeus no Iraque

FARHUD-1941

por José Roitberg

Corria o ano de 1941, mais precisamente a noite do dia primeiro para dois de junho. 780 judeus de Bagdá não veriam o dia amanhecer. Outros 1.000 ficariam feridos, a maior parte com gravidade. Mas o que levou a população muçulmana de Bagdá a sair na rua para matar seus vizinhos judeus de famílias com mais mil anos enraizadas na cidade?

Existe uma propaganda política de que a violência palestina (jamais dita muçulmana) contra os judeus é uma ‘justa reação’ a criação do Estado de Israel e ao ‘roubo de terras árabes’. Poucas pessoas estão interessadas em conhecer a geo-política da região, e menos a ainda a teo-política do Oriente Média, deixando de aprender que as lideranças religiosas muçulmanas incentivavam o assassinato de judeus, de forma aberta, com recompensas em dinheiro desde 1923, dois anos antes de Hitler escrever seu livro Mein Kampf. Assim a intenção e prática muçulmana no Oriente Médio de matar judeus antecede ao nazismo e antecede em décadas à Partilha da Palestina. Se você é dos que não quer saber disto, é um dos que precisa, mesmo, ler este artigo.

1910 - Rabinos de Bagdá
1910 - Rabinos de Bagdá

Até janeiro de 1940 o Iraque era o principal fornecedor de petróleo para o esforço de guerra britânico. A Rodovia 1 (hoje em Israel), que a maioria das pessoas pensam se iniciar em Yaffo (Tel Aviv) e ir até Jerusalém, na verdade é uma construção britânica e ia até Bagdá. O Iraque tentava ser apenas um fornecedor, sendo também a fonte de petróleo da Itália Fascista de Mussolini.

Em março de 1940, Rashid Ali al-Gaylani, um muçulmano sunita ocidentalizado, político nacionalista, foi nomeado primeiro ministro, após um golpe de estado, e tanto a Inglaterra o pressionou para se afastar da Itália, cujas forças combatia na Líbia e o Egito, quanto a Alemanha o pressionou para abandonar a Inglaterra. Houve um encontro diplomático na Turquia com o embaixador alemão, onde Gaylani foi apresentado através de uma carta do Mufti de Jerusalém (o líder religioso muçulmano sunita de Jerusalém), Haj Amin al Husseini, o mesmo que estabeleceu a tabela de preços por cabeça de judeus mortos na Palestina do Mandato Britânico. Este encontro ocorreu 15 dias depois de Hitler expedir sua “Diretiva número 30”, em apoio ao “Movimento de Liberdade Árabe no Oriente Médio”, tentando trazer os árabes para a esfera nazista, contra a Inglaterra. Os muçulmanos eram considerados arianos, por ‘evidentemente’ não possuírem ‘sangue judeu’. (apenas nas mãos...)

1932 - judeus iraquianos no que acreditam ser a tumba do profeta Ezequiel
1932 - judeus iraquianos no que acreditam ser a tumba do profeta Ezequiel

Concluído o acordo, a Inglaterra iniciou sanções econômicas contra o Iraque ao mesmo tempo que batia as tropas de Mussolini no Norte da África. Poucos dias depois, o exército iraquiano, com artilharia, cercou a base que a RAF (Real Força Aérea) possuía em solo iraquiano e era fundamental como escala para os voos até a Índia. Tropas britânicas foram enviadas para reforçar a base e no dia 2 de maio, os britânicos, cercados partiram para o ataque, no que ficou conhecida como Guerra Anglo-Iraquiana que durou 27 dias, ponto em que as tropas britânicas já haviam passado por Faluja e estavam chegando a Bagdá. No dia 30 de maio, Gaylani e seus seguidores mais próximos fogem para a Pérsia e depois, de lá, para Berlim. No dia 31 é assinado um armistício entre os ingleses e o governo restaurado do Iraque.

Na noite seguinte, a culpa é colocada sobre os judeus e partidários de Gaylani saem as ruas da capital no pogrom mais violento que se conhece matando 780 judeus e deixando outros 1.000 feridos. Mas este pogrom também foi diferente de todos os outros pois as tropas do governo iraquiano tentaram conter a violência matando entre 300 e 400 agressores muçulmanos.

Gaylani à direita discursando e ao seu lado, Haj Amin. Atrás deles, vários oficiais generais nazistas (foto do arquivo do Yad Vashem)
Gaylani à direita discursando em Berlim e ao seu lado, Haj Amin. Atrás deles, vários oficiais generais nazistas (foto do arquivo do Yad Vashem)

Durante a Segunda Guerra Mundial, Gaylani esteve junto com Haj Amin Al Husseini circulando pela cúpula nazista na Alemanha. Os aniversários do golpe de estado pró-nazista que comandou em 1940 no Iraque era celebrado com pompa durante o período da guerra em Berlim. Na foto, temos Gaylani à direita discursando e ao seu lado, Haj Amin. Atrás deles, vários oficiais generais nazistas. Posteriormente à guerra, Gaylani acompanhou Haj Amim e outros nazistas para o Egito e depois tentou novo golpe de estado no Iraque, sendo preso e condenado à morte. Acabou por ser perdoado e exilado no Líbano, onde faleceu em 1965 aos 72 anos de idade.

Cova coletiva memorial onde estão enterrados os judeus mortos no Farhud de 1-2 de junho de 1941 em Bagdá
Cova coletiva memorial onde estão enterrados os judeus mortos no Farhud de 1-2 de junho de 1941 em Bagdá

As vítimas judias do Farhud, como ficou conhecido o pogrom de Bagdá, foram enterradas em memorial. Coincidentemente, a data do massacre foi a noite de Shavuot de 1941.

O Massacre de Hevron, comandado por Haj Amin Al-Husseini e permitido pelas tropas inglesas, em 1929, deixou 68 judeus mortos e 57 judeus feridos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário